quinta-feira, 31 de maio de 2007

Exageros de mãe - Millôr Fernandes

Já te disse mais de mil vezes que não quero ver você descalço. Nunca vi uma criança tão suja em toda a minha vida. Quando teu pai chegar você vai morrer de tanto apanhar. Oh, meu Deus do céu, esse menino me deixa completamente maluca. Estou aqui há mais de um século esperando e o senhor não vem tomar banho. Se você fizer isso outra vez nunca mais me sai de casa. Pois é, não come nada: é por isso que está aí com o esqueleto à mostra. Se te pegar outra vez mexendo no açucareiro, te corto a mão. Oh, meu Deus, eu sou a mulher mais infeliz do mundo. Não chora desse jeito que você vai acordar o prédio inteiro. Você pensa que seu pai só trabalha pra você chupar Chica-Bon? Mas, furou de novo o sapato: você acha que seu pai é dono de sapataria, pra lhe dar um sapato novo todo dia? Onde é que você se sujou dessa maneira: acabei de lhe botar essa roupa não faz cinco minutos! Passei a noite toda acordada com o choro dele. Eu juro que um dia eu largo isso tudo e nunca ninguém mais me vê. Não se passa um dia que eu não tenha que dizer a mesma coisa. Não quero mais ver você brincando com esses moleques, esta é a última vez que estou lhe avisando.

Texto extraído do livro "'10 em Humor", Editora Expressão e Cultura - Rio de Janeiro, 1968, pág. 15.

Mais Millôr

terça-feira, 29 de maio de 2007

Varal - Traga seu casaquinho!


Nosso Casaquinho quer saber a quantas anda a sua prole! (Estamos escrevendo no plural para dar mais sentido de coletividade ao casaco, muito embora nós, que escrevemos aqui, sejamos uma pessoa só. Não sei se fui clara.)

Participe você também da pesquisa (ao lado). Sua votação é muito importante para nós. Estamos trabalhando para a sua satisfação etc etc!

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Sobre a maternidade, os sonhos e os vidros

Eu tinha uns três aninhos. Minha mãe passeava comigo pela Rua Grande, no centro da cidade (São Leopoldo, minha terra!). De repente, sem mais nem menos, pus a mão na minha barriguinha e disse, bem alto:

- Ai, ai! (suspiro) Que vontade que eu tô de criar um bebê aqui dentro da minha barriga!!

Causei risos aos passantes e corei as bochechas da minha mãe, coitada.

Com o tempo, fui me esquecendo do desejo de ser mãe. Na adolescência, cheguei a decidir que não teria filhos. A gente decide tanta coisa quando é adolescente!

Até que um dia – acho que eu tinha 19 anos – tive um sonho com uma menina linda, tão linda e tão doce, que eu ficava admirando através de um vidro. Ela sorria, eu sorria daqui, mas ela nem me notava. Tinha um vidro enorme entre nós.

Quando eu já estava quase desistindo de brincar com aquela bonequinha distante, veio alguém e me cutucou: “Ei.. É sua filha”. Aquilo tomou conta de mim – a menina do outro lado do vidro era minha filha! Ainda quis questionar a pessoa (não lembro quem era) dizendo que não podia ser minha filha, olha aí esse vidro...

- Que vidro? – A pessoa disse.

E eu olhei de novo e não tinha mais vidro nenhum.

Quando acordei, contei o sonho para a minha mãe e informei que tinha mudado de idéia; agora eu queria ser mãe.

- Por causa de um sonho? – Ela me sorriu, na verdade achando muito bom.

Eu não sei se foi o sonho, a vontade infantil ou o fato de eu ter conhecido o pai dela (a menina do outro lado do vidro que não havia mais). Ou foi tudo isso junto. Mas o sonho tem uma coisa interessante: quando descobri que era mãe, o vidro sumiu.

Vou dizer uma coisa que nunca disse, e não é para convencer ninguém de que a experiência da maternidade seja indispensável na vida de uma mulher (continuo não achando isso). Mas que os vidros estão caindo, estão.

domingo, 27 de maio de 2007

Não me meto com as tuas mamas; não te metas com as minhas!

É maravilhoso sair na rua e ficar colhendo elogios derretidos à minha filha. Os adultos babam, as crianças ficam fascinadas e curiosas.

- Viu, filhinha? Você já foi assim...

(É ruim! Assim como a minha filha, sorry, só a minha filha!).

Mas hoje, no shopping, chegou uma mulher maluca e colou o olho nela.

- Quantos meses?

Sabe doida arregalada? Você se sente observada por duas lunetas.

- Três meses e mei...

- Nããããoooo!??? – Agora ela arregalava a boca, o nariz, tudo. – Não pode ser!! E tão esperta! Vê como ela quer olhar tudo! Aaai, meu Deus! Como é que pode?

- He he he... (Nossos risos amarelos.)

Virou-se para mim, e quase tive um treco, porque ela não falava: gritava.

- Você dá o peito de três em três horas???

Numa mesma pergunta, a mulher informou metade do shopping o que se passa com os meus seios e com a minha filha diariamente, e ainda acrescentou os intervalos das mamadas (para não restar dúvida). Não sou especialmente acanhada, mas, francamente, nesse momento eu “vi” dezenas de olhos se voltando para a minha direção no afã de obter resposta.

E aí? DÁ O PEITO OU NÃO DÁ?

Xícaras se arrastavam nas mesas, apreensivas. Casais suspendiam o assunto. Garçonete empacou com a bandeja na mão.

DÁ O PEITO OU NÃO DÁ?

- Hhumrsggg... D-dou, sim.

Droga! Acovardei-me diante da pressão, engasguei e respondi. Devia ter dito:

- Vem cá! Estou, por acaso, querendo saber o que tu fazes das tuas mamas? Não estou! Então, vamos combinar que eu não me meto com as tuas mamas, e não te metes com as minhas!

Não sei por que as mamas das mães são consideradas coisa de domínio público. Assim como a barriga das grávidas, aliás. É uma falta de cerimônia!

E tem mais: essa expressão “dar o peito” é muito feia, além de equivocada. Ora, não estou “dando meu peito” a ela.

Estou, no máximo, emprestando.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Mamães escolhem suas noras

A crítica caiu de pau, mas eu achei a idéia maravilhosa (brincadeirinha, vai): a TV italiana lançou um novo reality show chamado “Noiva Perfeita”. Nele, mães de homens solteiros se enfurnam numa casa com candidatas a noras; a função das mammas italianas é avaliar as prendas domésticas (ai...) da mulherada, e o público vai eliminando as menos queridas.

Do Blue Bus.

***

Falando sério, os críticos não gostaram porque o programa considera que o papel da mulher – ou da “mamma” - seja cuidar da família e da casa (coisa ultrapassada, segundo eles). Nem vou comentar isso: tão óbvio.

Mas, falando não-sério (dá para levar a sério um reality show?), a fantasia de mamãe escolher nora é ótima! Devia haver outros critérios, seria mais divertido e inteligente. Tá bom, já é querer demais.

Veja o site do programa – que, aliás, conta com participantes brasileiras...

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Primeiros movimentos

Agora começou a inclinar o tronco para frente. No início do movimento, parece determinada. Quando recostada no colo de alguém, joga a cabeça em direção ao peito – querendo aproveitar o peso do crânio para obter vantagens gravitacionais – e faz uma cara enfezada: “Rá, vocês pensam que eu não consigo?”.

Lá vai ela. Uma força grande no abdômen! Quando vê, conseguiu “sentar” o corpinho em L. Mas o L dura uma fração de segundo: logo a cabeça e a força para sentar resultam exageradas, de modo que acaba com o nariz lá nas canelas, se deixar... Então, antes disso, faz uma cara assustada - “ai, me ajudem!” -, e a gente ajuda pondo de volta na posição original. E ela começa tudo de novo.

Agora, com três meses (e meio) de idade, está ficando muito comum essa seqüência dupla de emoções, registradas pelas caretas que ela faz. Primeira: “sou poderosa, vou investir determinado esforço em determinado objetivo, não tentem me impedir!”. Segunda: “Socoooorro!!! Não deu certo! Quem foi o #&!*#% que me orientou a proceder dessa maneira??”.

Alguma coisa me diz que isso é só o início...

quarta-feira, 23 de maio de 2007

O sexo dos bebês




Um teste que permite descobrir o sexo do bebê na sexta semana de gestação causa polêmica na Grã-Bretanha. Grupos anti-aborto alegam que o exame pode induzir ao desejo de interromper a gravidez caso o sexo não seja o desejado pelos pais.

Leia a matéria na BBC Brasil.

Polêmica à parte, a curiosidade é mesmo grande! Nós descobrimos só com 22 semanas, na segunda tentativa (fizemos o ultrasom com 20 semanas, mas a Lara fez charminho e apareceu sentada, de ladinho e com as duas mãos cobrindo o objeto - no caso, a objeta! - fundamental para o tira-teima).

Reproduzo, abaixo, o texto que publiquei quando, finalmente, descobrimos que era ela.
***

Ultrasom – 22 semanas

- É uma menina.

Estranhamente, eu não quis acreditar. O senhor tem certeza? Checa bem esse negócio aí, alô, alô, tá funcionando o aparelhinho que mede? Olha, o senhor desculpe, mas eu já passei por isso antes, cheguei aqui e o bebê me apareceu sentado e...

- Estou dizendo, é uma menina.

Vai por mim, doutor, essas coisas às vezes enganam, estou calejada, imagine que minha primeira experiência deu segundo turno, Deus me livre de empatar um jogo desses, esse gelzinho é de boa qualidade? Gruda bem o scanner que você passa na minha barriga, está bem grudado? Eu digo, aderindo? Olha, a imagem na tela não está lá essas coisas, não. Quero dizer nada. Muito chuvisco. Tem risco de haver interferência com os bebês das outras?

- A sua filha é uma me-ni-na! Está muito claro, olha lá o sexo!!

Não havia Cristo que me fizesse engolir a ficha. Eu seria mãe de uma menina. Que alegria doce; um suspiro bem ensaiava, mas não me acontecia. Continuei tentando me certificar, e apertava a mão do pai cada vez mais forte, como quem pedia que me dissesse que era isso mesmo, soprasse no meu ouvido sem que o médico estivesse olhando: psiiiu, ele está falando sério!

A verdade é que só acreditei quando olhei para ele – o pai dela.

Dizem que as mulheres são mais sensíveis às formas não verbais de comunicação, um franzir de testa, um jeito, acento de sobrancelha. Na tela eram pedacinhos de pés, braços, boquinha, mão, ossos e feições confusas. Na voz do médico eram palavras.

Mas o pai fez lá um ar, e foi ali que eu enxerguei inteira a minha Lara.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Mães e filhas

Meu primeiro dia das mães. Dei a ela (minha mãe) um hidratante poderoso. E ela me deu um sutiã para corrida.

Ela vai ficar poderosa; eu vou sair correndo.

**

Meu primeiro dia das mães. Ela (minha filha) me deu um roupão atoalhado. Via pai, claro. Dei a ela... leite morno. Via seios.

O mundo lá fora

Achei uma fila com uma (só uma!) senhora na minha frente, que beleza. Estacionei meu carrinho atrás dela e fiquei a observar as revistas relevantes que eles deixam por ali – a propósito, sabiam que a D. Winits está grávida e, por isso, deixou de fumar? Ô, notícia fundamental.

A senhora já tinha passado todas as compras, mas não havia ninguém naquele caixa para organizar a entrega em domicílio. E eu também queria entrega. E estava atrasada para o horário da mamada da Lara. Santo Deus, não existe coisa que me deixe mais perturbada.

A moça do caixa, quando solicitada, fazia bico.

- Pois é, tão demorando hoje... (olhava as unhas).

A senhora de loiros cabelos para cima já se irritava e falava ao vento - essas pessoas que falam ao vento, cuidado com elas.

- Tem ninguém para fazer a entrega, não??

Eu, calada, não me meto. Também ninguém responde. Meia dúzia de rapazes que empacotam fazem caras empacotadas. E ela vai de novo.

- Eeeei!!! N’é possível que eu já paguei e tô pronta para ir embora, mas não tem NINGUÉM PARA FAZER A MINHA ENTREGA!!! Alô-ou???

Uma moça de branco com crachá enorme vem lá do fundo com um passo arrastado (deve ser o peso do crachá). A do caixa já sorri para si mesma, irônica. Eu bufo, sinceramente indignada. Minha filha já deve estar faminta em casa, e eu não posso mandar meus seios pelo motoboy!

A partir daí, começa um processo de moça-que-chama-moça-que-chama-moço-que-chama-moço – simplesmente enlouquecedor. Quando chega a minha vez, enfrento toda a pendenga e ainda vou parar noutro balcão para dar o endereço. A moça já avisa “a entrega vai demorar”. Ah, não diga. Falo o nome da minha rua, e ela:

- Xiiii... Essa rua acabou de sair daqui, vai demorar mais ainda!

Querida, duvido que a minha rua tenha sequer vindo até aqui. E dá licença, que tem um bebê esperando milk delivery!

Filha, filhinha, desculpe a mamãe, sua entrega também atrasou, perdão!, mamãe estava no supermercado, tinha uma senhora, uma moça com crachá e... Ela dorme profundamente, as mãozinhas em frente ao rosto em xis.

Ah, se o mundo lá fora tivesse 10% dessa paz.

Concorrência

Deitei-a comigo na cama e quis brincar. Eu quis brincar. Ela olhava o teto. Fiz gracinhas, beijinhos, estalos. Belisquei o narizinho. Falei agudo, aguado, sustenido. Ela olhava o teto.

Quis muito que ela me sorrisse – ora, anda tão risonha! Mas é na hora dela. Insisti. Ela – adivinha? - olhava o teto. Quando cansei e desisti, ela soltou um sonoro “AAAAAH!!!” e abriu a boca num sorrisão maior que o rosto.

Claro, para o lustre.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Na manga! - Dicas do casaquinho

Para retirar o excesso de sujeira (vamos ser francas: cocô!) do bumbum do bebê, use uma folha de papel-toalha como “mata-borrão”. Não esfregue! Apenas encoste suavemente o papel no bumbum (do bebê, não o seu) – ele absorve muito bem, e fica mais fácil limpar o resto com algodão e água morna.

Obs: dica aprovada pelo pediatra.

Teste

Resultado: 18 pontos

Eu sou o que se pode chamar de mãe(pai) ajustado(a) com a realidade atual.

Descubra se Você É Um(a) Pai(Mãe) Ajustado(a).

Oferecimento: InterNey.Net

Upgrade do ditado

Mãe é tudo igual, só muda a URL.

domingo, 20 de maio de 2007

Pesadelo de mãe

Tive um pesadelo de mãe, se é que se pode dizer assim. Estava num avião, a trabalho (não me lembro de que tipo, só sei que eu participava de uma reunião a bordo). Minha filha viajava no mesmo vôo, mas estava em outra parte do avião. De repente, a geringonça começa a cair!

Pânico. Do meu lado, gente gritando, chorando, rezando. Uma aeromoça disse que isso “já era esperado” (?). Lembro a frase que meu irmão costuma repetir - ele que é piloto, embora não exerça a profissão: Avião não cai; é sempre o piloto que o derruba.

De repente, começo a enxergar uma estrada e me dou conta: vamos fazer um pouso forçado. Penso na minha filha o tempo todo, quero saber onde ela está. Acho que vamos todos morrer. Acho, não: SEI que vamos morrer. Eu podia prever o final trágico daquela história, mas, estranhamente, a morte do meu sonho assumia outro significado – era como se tivéssemos várias vidas, e fôssemos apenas “queimar” uma nesse desastre de avião. Como num game.

O meu pavor, então, era assim formulado no sonho: toma juízo, Bíbi, agora você tem uma filha e não pode ficar morrendo por aí... Dizendo assim, parece engraçado. Mas acordei transtornada, tensa, com dor nas articulações e ofegante.

Bom, pelo menos acordei antes de morrer. O barulho dos carros se chocando contra o avião me despertou, e acho que minha filha também ouviu alguma coisa (!!), porque lá do berço eu escutei gemidos.

Levantei e a segurei bem firme. Depois, encostei-a no meu peito para mamar e, pela primeira vez, tive a curiosa sensação de que era ela quem estava me segurando (me acalmei).

sábado, 19 de maio de 2007

Ecobaby

Você sabia que uma fralda descartável leva mais de 500 anos para se decompor? E que uma criança gasta, em média, 5 mil fraldas até não precisar mais delas?

A novidade boa é que já existe uma fralda biodegradável – veja o site da marca gDiapers, à venda nos EUA desde o ano passado. (Infelizmente, ainda não tem previsão de chegada ao Brasil).

Confira uma matéria completa sobre isso no site OEco.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Onde começa a arte

Vazamento I

Sobre alguns fabricantes de fraldas - de duas, uma: ou nunca tiveram filhos, ou não têm mãe.

Vazamento II

Existem duas coisas que os bebês fazem muito. Primeira, cocô. Segunda: cocô na justa hora em que estamos trocando suas fraldas.

O bebê (quando é muito novinho) não entende o motivo da troca de fraldas. Já percebi. Quando é colocado sobre o trocador, de barriguinha para cima e com os braços soltos, fica olhando a mãe e o pai com um desdém descarado que revela seus pensamentos:

“Lá vem aquela mulher, de novo, com esse algodão em bolinhas. Que fixação no meu bumbum! Deixasse minha situação do jeito que estava; não entendo querer tirar com água morna essa coisa amarela que, afinal, me pertence! Que destino ela dá a isso? Será que vai comercializar? Só isso explicaria tamanha obsessão dessa moça e daquele sujeito de barba (outro que não bate nada bem). Cada vez que me deitam aqui nesse negócio plastificado, tiram minha roupa e esfregam tanta bolota de algodão, mas tanta – que acaba saindo mais meleca amarela do meu bumbum!”.

Então, existe o cocô “ao vivo” e o cocô “gravado”. O gravado é aquele que encontramos já impresso na fralda (a tiragem varia conforme o dia, depende do apetite, de quanto mamou etc). O cocô ao vivo é aquele feito de improviso, na hora H, sem ensaio, sem rede de proteção, e pior: sem fraldas.

Ainda na categoria “ao vivo”, existe o acústico e o elétrico. O primeiro é brando, soa mansinho e não chega a pôr muita gente para dançar. Já o elétrico pode ser ouvido – e lançado - a longas distâncias, por exemplo, um armário, a blusa nova da mamãe ou a parede branca do outro lado do quarto.

Há quem diga que um cocô ao vivo só é produzido se houver pressão do mercado – ou seja, levantando-se as perninhas do bebê e comprimindo, com isso, regiões perigosas. Discordo. Se um bebê deseja expressar sua criatividade sem ensaio, qualquer palco é palco.

Começam mesmo muito cedo a fazer arte.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Pediatra – consulta de 3 meses

Examinou, mediu, pesou, testou, vacinou, observou, recomendou, anotou, lembrou, advertiu, explicou, receitou.

- Sim, doutor. Mas, aqui entre nós: ela não está LINDA???
- Um escândalo!

Pronto, minha arcada dentária era a Baía de Guanabara.

Cobras e furinhos

Fizeram um terrorismo quando eu engravidei.

- Cuidado com as estrias!!!

Era quase automático, como dizer “obrigada” e o outro responder “de nada”.

- Tô grávida.

- Cuidado com as estrias!

Para encurtar a história: usei, até o oitavo mês, um creme “anti-estrias” manipulado, receitado pelo meu obstetra já na primeira consulta do pré-natal. Fiquei tranqüila e hidratada. No final da gestação, por conta de um problema na unha, fui à dermatologista. Qual não foi minha surpresa quando ela disse:

- Esse creme anti-estrias que você está usando é um ótimo hidratante, mas de anti-estrias não tem nada!

Tive pesadelos com milhares de cobrinhas brancas subindo pelas minhas coxas. Diacho, tinha usado o creme errado! Por que não fui à dermatologista no início da gravidez?

Bom, porque no início da gravidez a gente tem coisa mais importante para pensar. O bebê, por exemplo. É muita novidade.

Não consegui evitar algumas cobrinhas. Não virei um Butantan de jeans e All Star, mas passei a colecionar mais esse mimo - entre tantos outros privilégios exclusivamente femininos.

Olha, não é dos piores males. Quando se chega à beira dos 30, falhas no design são perfeitamente negociáveis.

“Troco dois furinhos de celulite por meia-dúzia de cobrinhas, fácil, fácil. Única dona, ótimo estado.”

Meus furinhos estão doidos para migrar para outras bundas.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Amor lácteo

Disseram que ela me olha de um jeito diferente. “É amor!”, arriscou minha sogra amorosa. Sinceramente? Nada vejo. Olha para mim como olha o teto.

- Mas vê como ela te segue com o olhar...

Segue até o ventilador. Um bebê de três meses!

- Faz distinção, sim. Você que é insensível e não quer enxergar.

Faz distinção, nada. Segundo especialistas, pensa que eu sou um pedaço seu. E ela própria, conforme os mesmos especialistas, ainda nem sabe que os bracinhos lhe pertencem - são apêndices voadores que lhe atrapalham a pegar no sono. O que há de pensar de mim?

- Boba! É amor de filha, aproveita!

Aproveito, claro, aproveito tudinho. E acho mesmo que existe um único momento em que me considera, vamos dizer assim, algo especial. É quando berra de fome e vê escrito em mim: PARMALAT.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Enfim, dormiu!

Enfim, dormiu! – respiro. Peraí. Deixa eu me concentrar que ela dormiu. Dormiu, Avemaria, até que enfim, dormiu. Um espelho, urgente. Faz tempo que não me vejo (escovando os dentes não conta). Pára tudo: minha filhota dormiu.

Agora é comigo e com a vida. Mas o que era mesmo que eu tinha de fazer? Supermercado. Unhas. Cabelos. Crônicas. Blog. Pesquisa. Livros. Jornais. Abdominais. Se vem alguém para almoçar, se vence hoje alguma conta, se tem aniversário na família. A Mega Sena acumulou, foi? Fazer uma fezinha.

Ainda estou olhando para ela. Nem acredito que dormiu, depois de horas de choramingo ininterrupto. Exausta, a coitadinha não podia com o próprio sono; irritava-se mais e mais. Armei-me de paciência e danei a sussurrar: sshhhhhh... shhhhhh... ssshhhhhh... À medida que ia funcionando, minha boca ia se projetando em direção ao horizonte – ssssshhhhhhh! Sssssshhhhhhh! Até que meu bico virou um asterisco (que absurdo, ainda vão dizer por aí que eu fiz botox).

O importante é que ela dormiu. Garçom! Por favor, um descafeinado para a mamãe aqui, e um naco daquela torta natureba de banana-e-aveia-light. Inventam cada coisa, não? O diabo é que a gente vicia. Dá-me logo duas!

Na verdade, ainda nem saí de casa, tampouco do quarto dela. Impressionante como engordou nos últimos dias. O que foi aquilo na bochecha esquerda, mosquito?

Graças a Deus, dormiu. Estou livre para as minhas atividades. Não agüentava mais ficar aqui parada, tarefa enfadonha. Ando precisando ir ao shopping.

Coisa engraçada, bateu um sono e quase enverguei para dentro do berço. Estou achando que vai me faltar energia para sair de casa.

Dormiu, que bonitinha. Tão delicada.

Não vai acordar, não??

Recém-nascidas

É como se o mundo ficasse numa bandeja à parte, e a gente fosse se servindo de uma beliscada aqui, outra ali – mas o prato que está na nossa frente, aquele do sustento do dia-a-dia, é mesmo o bebê. Ou a maternidade.

Dizem sempre: “dá um trabalho danado, mas é maravilhoso”. Não é um trabalho “danado”. É um aluguel desmedido, coisa que exige total entrega. Digo isso sem a menor culpa porque é a mais pura verdade. Trabalho danado é escrever um livro. Amamentar e cuidar de um bebê é entrega. Tudo que há em você é derramado num copo, e o conteúdo é bebido (sugado) por aquela criaturazinha. Então você quer ser esperta, ou supermulher, ou seja lá o diabo da sua fantasia, e resolve se espremer um pouco para fazer sair mais algumas gotinhas – na esperança de “sobrar” um pouco.

Nada, não sobra nada. É 100% aproveitado pelo bebê, 24 horas por dia. Quanto maior você se achar, mais entrega haverá. Não sei mais o que é desperdício (de tempo ou de amor) e também não guardo nada: tudo é utilizado. E é freqüente a sensação de que preciso abastecer a despensa, senão me esvaio.

De outro lado, “maravilhoso” é um adjetivo que cabe, mas não preenche. Maravilhoso a gente usa até para um pato assado!

Quando olho para a minha filha, perco os caminhos lineares. Não existe olhar/sentir/pensar/formular/dizer. Não existe ordem, nem mesmo o processo de ordenar. É uma experiência tão direta – a mais direta que já conheci – que até me pergunto se posso chamar de experiência. Talvez seja outro tipo de oxigênio ou uma canção.

Um bocejo dela me boceja inteira, um choro me chora, um sorriso involuntário me transforma em alegria da cabeça aos pés. Como é que o budismo classificaria?
Não sei se vem dela ou de mim. Vai ver que vai de cada uma, somos recém-nascidas – a pequena, experimentando as primeiras sensações; a grande, desarticulando idéias. Não me sinto andando com as pernas, é como se alguma coisa lá pela garganta me guiasse.

Em vez de tropeçar, engasgo.